Eu
poderia lamentar não ter
ganhado bonecas, não ter árvore de Natal,
nem mesmo ceia, nos Natais da minha infância!
Não,
não! Essas coisas nunca me fizeram falta!
Na
verdade, eu tive muitas bonecas!
Não
essas maravilhosas que compramos nas lojas de brinquedos, eu nem sabia que elas
existiam!
Minhas
bonecas eram vivas e cheirosas! Nasciam as pencas! Bastava andar até a lavoura de milho da minha mãe!
Eu tinha
o privilégio de escolher! Às vezes de cabelo loiro, outras de cabelos morenos e até ruivas! Minha mãe não
se importava, inclusive, me ajudava arrumar os cabelos de milho, com lacinhos de tecido.
Mamãe
era muito habilidosa e criativa! Dobrava uma folhinha de papel pra lá e pra cá, recortava, e num
instante eu tinha fileiras de meninos ou
meninas de mãos dadas para enfeitar minha casinha .
Procurava
o talo mais robusto de uma folha de abóbora e com apenas um corte transformava-o numa flauta mágica!
Eu brincava
de casinha debaixo do pé de esporão de
galo, que também servia de moerão, na esquina da cerca da horta.
Eu
tinha pinheiros de todas as formas e tamanho!
Não dentro da minha casa, mas estavam logo ali, espalhados por
todo o campo.
Enfeitados
com passarinhos coloridos que cantavam as mais lindas canções, e continuavam
lá, mesmo depois do Natal, enfeitando
meu olhar!
O
Natal não mudava a escassez do cardápio
das refeições em nossa casa, porém, mamãe nunca
deixou de fazer bolachinhas, de várias
formas, decoradas com açúcar colorido.
Era
a melhor coisa do Natal!
“Jesú
Bambino” repousava na manjedoura de minha imaginação, através das histórias que mamãe contava!
Com
o passar do tempo tudo mudou!
Ainda
guardo a boneca que me dei de presente, assim que comecei trabalhar. Tenho
árvore de Natal e graças a Deus, a ceia é farta!
Se
sou feliz?
Sim,
muito!
E
também sou muito grata!
Mas
sabe do que sinto falta?
Sinto
falta de minha mãe!
Só agora entendo a magia que existia no seu coração!
O
encanto que havia na simplicidade de
transformar nossa vida humilde em verdadeira poesia!
Posso
dizer que, graças a mamãe, as bonecas de espigas de milho foram
personagens importantes no meu mundo
infantil, e ainda hoje dançam nas minhas lembranças, embalados pelo som rouco
das flautinhas de talo de abobora!
Posso
também, ver mamãe embalando “Jusú Bambino” numa linda noite de Natal!
Queridos
amigos, Feliz Natal, Feliz Ano Novo!
Beijo
carinhoso!
Texto e fotografia de Jossara Bes.