Na frente da nossa casa, tinha um pé de caneleira da folha miúda!
Uma árvore gigantesca, com o tempo desenhado no tronco e a delicadeza da vida movimentando-se nas folhagens verde claro.
Os galhos se esparramavam fazendo cobertura de uma grande área do terreno! E sua sombra projetava no chão de terra, um grande circulo, pontilhado de brilho sol!
Ali, no verão, era o lugar mais ”fresco” de nossa casa!
Também, era o lugar mais bonito! Pois dali, eu via o Sol nascer e ir embora! Eu via a Lua atravessar o céu, as estrelas enfeitar a escuridão e tantas outras coisas, que só eu e ela, a caneleira, sabíamos!
Debaixo da minha velha caneleira, meu pai contava causos e nos apresentava os passarinhos que ele conhecia pela cantiga: Sabiás, Periquitos, Cardeais, Tico-tico, Curuiras, Canarinhos,Trinca-ferro, Bentevi, Pica pau, Sangue de boi, Azulão, João de Barro, Tucano, Beija-flor, e tantos outros que eu poderia nomear aqui!
Era lá também, que a gente jogava clica (bolitas), brincava de casinha, esconde - esconde e pega - pega!
Minha velha caneleira sabia dos meus medos, das
minhas angustias, dos meus sonhos mais secretos e das minhas alegrias infantis!
Naquele tempo, eu era a “menina da casa da caneleira”, filha do Ciro e da Irma!
Isso não é uma boniteza?
As árvores identificavam as moradas e seus moradores! E muitas vezes serviam de guias na imensidão dos cafundós!
— Vai sempre, até o pé de Sinamomo!
Ou então:
— Atravesse o rio, depois do capão de Guamirim!
Minha velha Caneleira, assim como a dona Irma e seu Ciro, já não existem mais, foram para o céu, levados pelos passarinhos!
Mas, no coração da “menina da casa da caneleira”, todos vivem e fazem festa!
Benditas sejam todas as árvores da terra, donas do ar que respiramos, morada dos passarinhos, encantos da minha poesia!
“Coração alegre, bom remédio”!
Texto e fotografia de Jossara Bes.
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