segunda-feira, 15 de agosto de 2016

MINHA VELHA



No ultimo sábado, dia 13 de agosto, durante a Feira do Livro na cidade de Santo Ângelo, (RS) houve o lançamento do livro, “3º Concurso de Contos 2015, Patrono: João Simões Lopes Neto”.
361 contos concorreram, sendo que 25 foram selecionados para compor o livro.
Estou feliz, pois meus contos classificaram nos três concursos.
Nessa edição inscrevi o conto, “Minha Velha”, memórias de minha infância e homenagem a minha avó paterna.
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MINHA VELHA

Quando uma coruja “rasga mortalha” cantar em cima do telhado de madrugada, é a “da foice” a  rondar!
- Bicho agourento, adivinhando morte, farejando defunto!
- Santa Barbina!
- Três vezes sinal da cruz!
- Xô, espanto! Deus há de livrar!

Levanta a velha num sobressalto!
Santo rosário enrolado em uma das mãos, na outra a lamparina bruxuleante, alumiando os  passos arrastados.
Vai benzendo, desenhando uma cruz imaginária, cômodo a cômodo, protegendo a  casa, afastando o mau presságio.
- Xite, bicho!
Grita a velha, arreganhando a janela de tábua, na escuridão gelada da madrugada.
A velha tem o tempo desenhado na pele e a sabedoria dos antepassados ecoando nas palavras abençoadas. Sabe das rezas, das novenas dos santos e da novena dos sete inocentes.
A escuridão espreita a velha, que afasta os males com ramo bento e benzedura!
- Xite bicho!
Ajeita o ramo de arruda na orelha, fecha a janela e solita reza para as almas penadas.
A velha sabe das ervas que curam os males do corpo e os males da alma!
Reza para São Brás para curar os males da buchada e Santo Antônio para arranjar marido para moça encalhada.
Rezas de um tempo muito antigo, que ganhou de herança de algum parente.
Ela sabe  ler o céu!
Sabe do tempo das secas e do tempo de chuvas grandes!
Sabe que  criança gosta de vir ao mundo nas mudanças de lua, e  quem conta estrelas ganha  verrugas.
A velha sabe tirar  mau olhado, míngua de criança novinha e olho grande.
Recomenda que sair do quente e ir para o frio entorta a cara da gente, e que
assoviar à noite, atrai almas penadas.
Reaviva o braseiro do fogão, aquenta o óleo de mocotó, afumenta as juntas para modo de desentrevar, passa na cara para dar brilho na pele  e nos cabelos para fortificar.
A velha  remexe o fogo. A coruja agourenta silencia. Solita  espera  o novo dia que se anuncia!


Beijos!
Jossara Bes.



14 comentários:

  1. Que lindo, nossa, amei ler aqui, me lembrei de minha avó, ela benzia com ramo de arruda e a gente conseguia sarar, ficar bem!
    Lendo aqui me transportei, portanto acredito que conseguistes atingir a maioria que também pensa e acredita no que os antepassados diziam!
    Parabéns, não poderia ser diferente, merecestes entrar para a seleção!
    Abraços bem apertados amiga Jossara!

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  2. Boa noite querida amiga! Parabéns pela conquista, sua maneira de escrever nos absorve a atenção, é terna e cheia de uma sabedoria alicerçada na simplicidade. Que bom que agora muitas pessoas mais podem desfrutar da leitura de suas palavras e conhecer um pouco sua velha avozinha...conheci muitas senhoras como ela, que infelizmente estão rareando, pois poucas pessoas hoje em dia se interessam em ler a natureza e aprender com ela.
    Um grande e carinhoso abraço!
    B&G

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  3. Parabéns pelo conto! Guarda contigo essa sabedoria antiga pra contar pra gente. Um abraço, Yayá.

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  4. Oi Jossara,
    Parabéns pela classificação dos seus contos nos concursos.
    Adorei o conto! Me faltou uma avó neste estilo para me dar uma banho de sabedoria popular.
    Bjs

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  5. Ah! Santa Cruz, valha me Deus!!! bicho agoirento, alma penada e coisa que o valha! Cruzes credo!.
    Histórias ou contos antigos que todos nós gostamos de ouvir. Está perfeito e estás de parabéns.
    Beijinhos cá do Algarve

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  6. Parabénnnnns, a memória afetiva ,o místico costurado com poesia..Fico encantada com tuas lindas palavras que possibilitam o filosofar .

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  7. Lindo conto, Jossara!
    Repleto de sabedoria popular de uma forma poética e muito gostosa de ler.
    Parabéns!
    Bjs

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  8. OI JOSSARA!
    ADOREI.
    O PALAVREADO NOS ARREMETE AOS TEMPOS ANTIGOS ONDE AS REZADEIRAS TINHAM O RESPEITO DE TODA UMA COMUNIDADE.
    PARABÉNS PELA CLASSIFICAÇÃO DE TEUS CONTOS.
    ABRÇS
    http://zilanicelia.blogspot.com.br/

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  9. Não gostaria de me colocar nos tempos antigos da "tua" Velha; ouvi muito "deste" conto, nos anos da minha infância...
    As coisas são como são, mas foi bom retornar a essa época de rezas, crendices e benzeduras.
    Parabéns pelo Roteiro do teu Conto.

    Beijo
    SOL

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  10. Outros tempos, outras culturas, outras formas de ver o mundo...
    Gostei, Jossara, desse conto/homenagem onde as palavras não se conseguem separar dos afectos.
    Parabéns

    Um beijinho :)

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  11. Outros tempos, outras culturas, outras formas de ver o mundo...
    Gostei, Jossara, desse conto/homenagem onde as palavras não se conseguem separar dos afectos.
    Parabéns

    Um beijinho :)

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  12. Parabéns! Um belo conto. Me fizeste voltar ao tempo. Belíssimo.
    Bjos tenha um ótimo fim de semana.

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  13. Lindo!!! Lindo!!!
    Compartilhei no meu Facebook: "MINHA VELHA
    É um Conto de autoria de minha amiga Jossara Bes, premiado no dia 13 de agosto de 2016, durante a Feira do Livro na cidade de Santo Ângelo-RS, no lançamento do livro: “3º Concurso de Contos 2015, Patrono: João Simões Lopes Neto”.
    Dos 361 contos que concorreram, 25 foram selecionados para compor o livro.
    Parabéns, Jossara Bes!!!
    Seu conto me trouxe muitas recordações. Acredito que a misticidade dessas "Velhas" era uma Marca e fez parte de nossas infância.
    Também, eu partilho de vivência similar com "Minhas Velhas"!!!"
    Beijão, Amiga!!!

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